CLXI (desmedidamente)


Não conheço meio termo
Apenas tudo
Apenas nada
Ora sou rainha coroada
Ora vazio,
Cinza,
Ermo
A par da raiva,
Amor
No desejo louco de dar
Nao me consinto definhar 
Leve
E pálida como a flor 
À vida morna,
Ausente 
Sou pouco dada
Para mim pouco é nada
Só o tudo é desmedidamente 




CLX (conceitos)




A razão de uma coisa é aquilo que a explica,
aquilo que lhe dá o ser e a finalidade.



CLIX





Como todas as coisas do universo estamos destinados, desde que nascemos, a divergir,

e o tempo é apenas a unidade de medida dessa separação...





CLVIII (alea iacta est)





 

Porque se não escolhermos
tudo permanece possível!




CLVII (beatitudinem)



A felicidade segura não existe.
A felicidade segura é segura, sim – mas não é felicidade.
A felicidade pacífica é pacífica, sim – mas não é felicidade.
A felicidade, quando é felicidade, assolapa, euforiza, arrebata. E não deixa respirar, e não deixa sequer pensar.
A felicidade, quando é felicidade, é só felicidade. E tudo o que existe, quando existe felicidade, é a felicidade. Só ela e tu. Ela em ti. Ela em todo o tu.
A felicidade, para ser felicidade, não tem estratos, não tem razão. Ou é ou não é.
A felicidade é animal, de facto – mas é ainda mais demencial. Deixa-te louco de felicidade, maluco de alegria, passado dos cornos.
 

Só quando estás dentro da felicidade é que estás fora de ti. Liberto do corpo, da matéria, da sensação – e imerso naquela indizível comunhão. 

Tu e a felicidade. 





in "Eu Sou Deus" de Pedro Chagas Freitas


Já a sentiste, não?

CLVI (80 ANOS DA MORTE DE FERNANDO PESSOA - 30/11/1935)




 "Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. "


Fernando Pessoa
 
 
 
 
 

CLV (dias)




é o grito dos que nascem
é o silêncio dos que partem
é o dia a dia que nos enfada
é tudo, pouco, ou talvez nada